novembro 08, 2004

A nova versão de: "O Capuchinho Vermelho"

Aqui vai, especialmente para vocês, a nova versão do Capuchinho Vermelho.

Pensam vocês que sabem esta história?
Mas a que têm na vossa memória
É só uma versão falsificada,
Rosada, tonta e açucarada
Feita para as crianças inocentes
Não terem medo, ficarem contentes.

A menina do Capuchinho Vermelho

«Como estou farto de fazer de bobo
Disse, cheio de fome, o senhor lobo.
«Há quatro dias que não trinco osso,
A avozinha vai ser o meu almoço
Quando a avozinha lhe abriu a porta
Com o susto tremeu e, meia morta,
Fitou aqueles dentes a brilhar.
«Ai, que o malvado me quer devorar
A pobre senhora tinha razão

Porque ele a comeu com sofreguidão.
A avozinha era pequena e dura,
O almoço não foi uma fartura.
«Ai, estou com uma fome aterradora,
Pronto para comer outra senhora
Foi procurar petiscos na cozinha
Mas nada para roer o bicho tinha.
«Vou-me sentar no colchão de folhelho
À espera do Capuchinho Vermelho»
Disse o lobo enquanto se vestia
Com as roupas que por ali havia.
Saia de seda, botas de verniz,
Chapéu de veludo foi o que quis.
Escovou o pelo, as garras pintou,
Bem disfarçado assim se sentou.
Um pouco depois, em passo apressado,
A moça chegou, toda de encarnado.

«Ó minha avozinha, quero saber,
As tuas orelhas estão a crescer
«Sim, minha neta, para melhor te ouvir.»
«Que grandes olhos tens, querida avó»,
Disse a menina cheia de dó.
«São para melhor te ver», disse o lobo
E pôs-se a pensar: «Não sou nenhum bobo,
Esta bela menina vou papar,
Que bom petisco para o meu jantar.
Vai saber-me que nem um pão de ló,
Não é velha nem dura como a avó
«Mas avozinha», disse a menina,
«Tens um casaco de pele tão fina
«Não», disse o lobo, «Deves perguntar
por que são meus dentes de espantar.
Bem, digas tu o que disseres
Como-te sem prato nem talheres
A menina sorriu. Da camisola
Sacou de imediato uma pistola
E com certeira pontaria
Pum, pum, pum, aquele lobo morria.

Passaram os dias, passou um mês,
Vi a menina no bosque outra vez,
Mas sem o capuz, sem capa encarnada,
Toda diferente, toda mudada.
Sorrindo me explicou: «Daquele bobo
Fiz este casaco de pele de lobo

Escrito por Roald Dahl (traduzido por Luísa Ducla Soares), Histórias em verso para meninos perversos.






2 comentários:

António Balbino Caldeira disse...

Descendente

Obrigado pela tua visita e referência à histórioa do lobo. Mas não vejo nestes versos a citação de Cruz. Podes explicar-me?

Blogger disse...

Se calhar foi estupidez minha. Associar a citação ao Capuchinho Vermelho. E decidi, então, postar a nova versão do Capuchinho Vermelho. Mas sim, realmente não tem nada que ver com a citação.
Obrigada por visitar o meu blog.